Considerando que a geração baby boomer, nascidos entre 1946 e 1964, hoje tem maior tranquilidade financeira, pois tem seus direitos trabalhistas resguardados e que a geração Y, nascidos entre 1980 e 1990, pode ser considerada geração PJ, sem carteira de trabalho, sem renda fixa, sem seguridade futura e sem proteção jurídica, precisamos ficar mais atentos/as às plataformas digitais gratuitas que esquecem, por ignorância ou porque querem, de remunerar a força de trabalho dos produtores de conteúdo.
Trarei exemplos dos fotógrafos para que vocês possam situar o quão complexo é pensar em futuro do trabalho para os profissionais autônomos.
No dia 21 de março de 2017, Dia Internacional de Combate a Discriminação Racial, a ONG Desabafo Social fez a campanha #BuscaPelaIgualdade, convidando os maiores bancos de imagem do mundo a repensarem seus algoritmos. O questionamento era: Por que branco é padrão? Você já reparou a diferença no resultado da busca de termos como “pele negra” e simplesmente “pele”, ou “pessoa negra” e somente “pessoa”?
Um ano depois, os resultados foram:
- Mais de 5 milhões de pessoas alcançadas em 5 dias.
- Campanha veiculada no SBT para alcançar um maior público
- O banco de imagem Shutterstock colocou filtro de cor/etnia
- Referências para campanhas semelhantes e criação de bancos de imagem mais diversos 5. Apoio ao Color Balance, um banco de imagens dedicado a imagens autênticas e representativas predominantemente da África, Ásia e América Central e do Sul.
- Saímos na revista Archive, publicação de circulação global, como uma das melhores campanhas de 2017
- 11 premiações no Prêmios Lusófonos da Criatividade, sendo 2 Grand Prix e 1 ouro.
- Fomos convidados a apresentar a campanha e discutir sobre algoritmos no Global Symposium Artifical Intelligence & Inclusion, realizado pela Universidade Harvard
Recentemente, conheci o Nappy, um banco de imagens com fotos em alta resolução de pessoas negras e totalmente gratuito. O Nappy foi criado pela SHADE, uma agência de creators negros do Brooklyn, NY (EUA). Essa plataforma vem para solucionar uma lacuna que é a ausência de diversidade na publicidade, sobretudo de pessoas negras. Isso acontece porque apenas 0,7% dos cargos de alta direção das principais agências de publicidade do país são ocupados por negros, de acordo a pesquisa da Etnus Consultoria.
É inegável a importância de um banco de imagem como esse. O problema está na parte 100% gratuita. Ou seja, quem ganha são os usuários e consumidores. Mas como fica os produtores de conteúdo?
Precisamos pensar na Geração PJ, sem deixar de garantir diversidade.
Tenho visto alguns exemplos de plataformas que estão na seguridade de renda e uma moldura jurídica protetora para os produtores de conteúdos.
Colour Balance é um banco de imagens dedicado a imagens autênticas e representativas predominantemente da África, Ásia e América Central e do Sul. Cada fotógrafo receberá 50% do valor para cada imagem vendida, ter os direitos autorais internacionais resguardados e aproveitar a liberdade artística para fortalecer um banco de imagem que represente a diversidade racial.
Sobre serviços de streaming de música, temos o Spotify como o mais popular atualmente, mas é só jogar no Google para encontrarmos polêmicas sobre o mal pagamento aos artistas. Mas do outro lado temos o Resonate que transforma ouvintes casuais em fãs dedicados sem assinaturas mensais caras. Composta por três diferentes papéis: músicos, fãs e as pessoas que o constroem, eles dividem o lucro da seguinte maneira: 45% músicos 35% fãs 20% para Resonate.
E tem também a Paratii, uma plataforma brasileira de distribuição de vídeos sem intermediários, ou seja, sem barreiras entre o criador e o usuário, onde o produtor de conteúdo pode coletar 100% da receita do seu conteúdo, graças a tecnologia Blockchain.
Esses três exemplos são apenas para mostrar que é possível construir um ecossistema de justiça e diversidade utilizando as plataformas digitais como ferramentas para alcançar determinado fim, compartilhando as receitas onde toda cadeia produtiva ganhe.