Por Monique Evelle
Acredito que ninguém tenha dúvidas que as pessoas podem ser contraditórias, ainda mais da minha geração cheia de certezas e instantaneidades. Mas claro que todos podem mudar de opinião. Recentemente vi em algum lugar a seguinte mensagem:
É meu aliado quem ganha dinheiro falando de racismo?
Fiquei pensando o quanto as pessoas são equivocadas e jogam baixo, talvez até sujo. Vou trabalhar com exemplos.
Gabi Oliveira é formada em Relações Públicas pela UFRJ e criou o canal no youtube durante o TCC (Para quem não sabe o youtube é também uma plataforma de negócios). Consequentemente os temas que ela aborda em seu canal, por vivência e estudos, é sobre relações étnico-raciais. Djamila Ribeiro é mestra em Filosofia pela UNIFESP e tudo que ela conseguiu de visibilidade se sustentou por conta da sua credibilidade, pautada nos seus estudos.
Logo, ganhar dinheiro é consequência do trabalho que elas desenvolvem com a profissão delas. A militância é uma parte da vida dessas pessoas. E por serem mulheres negras, falarão de questões raciais de forma consciente ou não.
A temática racial é transversal a qualquer outro tema: negócios, cultura, gênero, educação, comunicação e afins. Eu, por exemplo, enquanto mulher negra e ativista, tenho o meu lugar de fala e racializo o debate. Porém sou formada em Política e Gestão da Cultura e, atualmente, estou como repórter no Profissão Repórter. Não sou apenas Monique Evelle, a militante. Militância não é minha profissão, não é meu emprego.
A romantização da pobreza me deixa um tanto angustiada. Não estou falando da camisa da Osklen escrita “Favela” e sim da necessidade gigantesca que os movimentos têm de querer continuar enxergando a periferia como único território possível pra nós. E olha com estranheza qualquer negro que romper com isso.
Lázaro Ramos falou algo que levo pra vida.
Luto para não viver sob a demanda do racismo e dos racistas
E acrescento que luto para não viver sob a demanda da militância. Sabemos que nascer mulher negra já é sinônimo de resistência. Eu resisto! E parafraseando Jéssica Ipólito, não estou disposta a ser a carne machucada, desgastada e morta viva. Quero poder exercer minha individualidade sem precisar pedir permissão, porque sei exatamente da minha responsabilidade ancestral e o compromisso que tenho com as coisas que tenho desenvolvido e com a comunidade negra.
A parte boa é que não existe apenas um tipo de militância. Uns vão pela estética, outros criando coletivos de debates, outros pagando o boleto do ENEM de uma irmã, indicando alguém para um emprego, divulgando o trabalho da galera etc.
E voltando a pergunta…
É meu aliado quem ganha dinheiro falando de racismo?
Quem questiona dessa forma acredita piamente que militância é profissão, militância é emprego. E acredite, quem fatura através do racismo não são os negros.
Mas como nem todo preto é irmão, nem toda mulher te apoia e nem todo branco é seu inimigo, discordar faz parte. O problema é quando as certezas alheias anulam e apagam existência e o histórico de estudos, trabalho e caminhada de outra pessoa, sobretudo negra.
O pior de tudo é que esses tipos de comentários são sempre dirigidos para mulheres negras. Homens negros são isentos.
E reforço: precisamos continuar dando nomes as coisas:
- Racismo não é bullying
- Relacionamento abusivo não é prova de amor
- Inveja não é crítica.
Aproveitem e leiam:
http://casadamaejoanna.com/2017/05/18/carta-aberta-aos-homens-negros/
Ouçam a música que Rashid fez de tudo que os nossos falaram dele.