Por que ao espetáculo LÍVIA é um dos melhores que já vi? A resposta poderia ser simples, se as pessoas interpretassem da mesma forma que a gente tenta passar. Como isso não acontece, vou explicar rapidinho.
Observem essas imagens:
Imagine que eles estão fazendo um espetáculo. O que você vê? O que , provavelmente, a peça fala?
A descrição poderia ser: Atores interpretando um casal ou monólogo, falando da vida e as consequências das nossas escolhas.
Agora observem essa imagem:
A descrição (viciada) poderia ser: Atores NEGROS interpretando um casal e falando sobre RACISMO.
Tem uma parte do livro “Na minha pele”, de Lázaro Ramos, que fala que mesmo querendo esquecer que somos negros, alguém nos lembra. Ou seja, Sol Menezzes e Licínio Januário não são apenas excelentes atores. São excelentes atores negros. Porque não existimos sem essa terminologia.
Pela primeira vez nos meus 22 anos, assisto um espetáculo com direção e elenco negro e que a mensagem final não envolva racismo. Podem ter vários, mas nunca vivenciei.
Sentada naquela cadeira, só consegui enxergar dois atores fazendo simplesmente uma peça que me arrancou lágrimas com um roteiro incrível e uma encenação impecável.
Esses dois atores trouxeram humanidade pra mim, pra nós pretos e pretas. Eles mostraram que somos tão reais quanto outras pessoas que não precisam utilizar a terminologia negro/preto. Além disso, mostraram com esse texto que nem só das demandas do racismo e dos racistas vive uma pessoa negra. Trouxeram situações das nossas vidas, as escolhas , o amor, a rotina.
Obrigada Sol, Licínio e toda equipe por mostrar que:
- As militâncias são distintas e têm coisas que não precisamos sempre verbalizar. A nossa existência em determinado espaço mostra a nossa luta. Vocês no atuando no palco dos Parlapatões mostram isso.
- Como sempre digo, começamos a militância como Malcom X e depois a gente entende o que Martin Luther King quer dizer. LÍVIA me pega pelo diálogo, me embala pelos braços e faz a mensagem chegar em todas pessoas.
- PESSOAS NEGRAS TÊM HUMANIDADE. Eu falo sobre outras coisas, além de racismo. Eu tenho uma vida, além da luta antirracista.