Aprendam a humanizar pessoas públicas, da mesma forma que você humaniza sua família e pessoas brancas

Até hoje não entendi porque as pessoas reclamaram quando Anitta se posicionou. Não estou falando se ela quis ou não se posicionar nas eleições, mas sim dos comentários que as pessoas fizeram falando que não era um posicionamento válido porque ela tinha assessoria.

Isso me deixou pensativa e ao mesmo tempo exausta. Sai do Facebook por um tempo e deixei meu Instagram privado. Não estava aguentando essa hipocrisia que as redes sociais trazem para superfície.

Depois de episódios como esse, revivi o momento que precisei me afastar para não surtar. E não foi a primeira vez que fiz isso.

As mensagens chegam por inbox ou direct quase sempre com tom imperativo e ponto final. É mais ou menos assim:

Divulga isso aí nas suas redes

No mínimo eu esperava um Oi e um Tudo bem?.  Na verdade já deixei essa expectativa de lado, porque não é a primeira vez que escrevo e falo sobre esse assunto. As pessoas realmente não entendem. Mas claro que quando esse imperativo acontece, eu respondo: Também estou bem. E ninguém nunca mais responde. Nem para pedir desculpas.

Como vi que isso não iria mudar, pensei em distribuir o time que hoje me ajuda nas funções básicas da minha rotina como, por exemplo, cuidar da agenda e responder e-mails e WhatsApp. Mas acreditem se quiser, as pessoas não respeitam isso também. Me mandam mensagem no meu número pessoal, mesmo sabendo que há pessoas que me ajudam com tanta demandas.

E nessa loucura, vou adoecendo, chego no meu limite, não consigo cumprir as agendas. E mesmo nesse estado, continuam invadindo meu espaço pessoal.

Já cheguei a pensar que isso só acontece comigo porque sou uma mulher preta. Afinal as pessoas têm um olhar distorcido para as mulheres pretas, acreditando que elas precisam estar disponíveis o tempo todo. E para não ficar na dúvida, fui perguntar para meus amigos e amigas não negras, como os convites chegam para eles e elas. Acreditem: PELA ASSESSORIA! Pelo número da pessoa que trabalha com eles e elas. Pelo e-mail.

É exaustivo quando, mesmo quando tentam falar com Gabriel (que trabalha comigo), sempre utilizam frases como: “pode cobrá-la?”, “eu sei que ela está meio doente, mas tem certeza que não conseguirá participar?”. Gabriel é a pessoa que cuida da minha sanidade mental. Ele já sabe meu limite. Ele sabe quando não conseguido levantar. Ele acompanha meus surtos de cansaço.

Muita gente me pergunta como consegui criar isso ou aquilo ou como aguento tanta coisa. Perguntam também como separo vida profissional de pessoal. Sempre respondo que sei meus limites, mas sei porque tenho uma rede de pessoas comigo que vão me auxiliando. E sobre vida profissional e pessoal, é a mesma coisa. Se estou viajando para curtir, não vou trabalhar. Não aceito ligações e mensagens de trabalhos nos finais de semana e feriados.

Eu sei exatamente o que venho construindo para aproveitar minhas horas livres e preservar meu espaço, minha individualidade e não deixá-la que termine em esgotamento físico e mental.

Aprendam a humanizar pessoas públicas, da mesma forma que você humaniza sua família e pessoas brancas. Eu não sou uma máquina, mulheres negras não são têm que ser fortes o tempo todo e respeitem minha história e meu trabalho.

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