Em Salvador, onde a produção cultural se destaca no nicho do Axé Music, e agora começa a aparecer jovens negros produtores culturais com suas festas fora desse nicho, percebemos três coisas: a falta de patrocínio, a negação dessas festas e muitas vezes a falta de público.
Chegou verão em Salvador e com ele todos os ensaios de axé. Todos os ensaios tem grandes patrocinadores que vão desde cervejarias até grandes veículos de comunicação. O valor do ingresso já determina o público que frequentará essas festas e garantirá a super lotação.
Com o festival Cidade das Cores, promovido por jovens empreendedores negros , isso não aconteceu. O valor do ingresso era de apenas R$ 10,00, tiveram artistas conhecidos da capital, mas pouco público.
Outra festa que vem ganhando a cidade de Salvador, é a Batekoo. Também produzida por jovens negros, sem patriocínio, esta festa tem bastante público, o que dificulta a entrada de todas e todos. A cada festa, os organizadores da Batekoo procuram locais cada vez maior para suportar tanta gente. O que é bastante difícil.
A Batekoo traz diversos ritmos musicais, sobretudo o funk. O artigo A construção do Mapa da Juventude de São Paulo, das autoras Aylene Bousquat e Amélia Cohnm baseia-se na análise dos perfis das juventudes paulista, a partir do Mapa da Juventude de São Paulo, elaborado pelo Cedec. “[…] nota-se aumento expressivo do percentual de entrevistados que se classificam como “pretos/negros” e “pardos” nas Zonas com maior exclusão (3, 4 e 5); na ZH5 – a pior posição no ranking – o conjunto de negros/pretos e pardos ultrapassa o de brancos.” (p. 7)
“No caso do funk, a preferência é menor na ZH1 (10,9%) e cresce gradativamente em direção à ZH5 (27,6%) […]” (p.10)
A preferência pelo funk cresce gradativamente em direção as zonas com maior exclusão, onde há o maior número de negros. Será que isso tem alguma relação com aquela frase “funk não é cultura” ? Pois é. Isso é um dos fatores fundamentais para negação da Batekoo em espaços culturais de “maior prestígio” na capital baiana como o Parque de Exposições, o Wet’n Wild, a Arena Fonte Nova e outros.
A Batekoo utiliza o funk como instrumento de empoderamento, o que é um grande desafio, porque há diversas interpretações. Há quem concorde ou não. Mas como diz minha amiga Djamila Ribeiro, não podemos esvaziar nossas irmãs pretas e irmãos pretos de história.
A produção cultural em Salvador é cruel. E as nossas e nossos companheiros de luta reproduzem essa lógica perversa, deslegitimizando o trabalho das pretas e dos pretos.
Aos poucos iremos entender que o Brasil tem 515 de existência, 3/4 de escravidão, 1/4 de ditadura, que a abolição da escravatura foi um jogo político e que se não dão espaço para realizarmos nossos eventos culturais, a gente toma!

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