Por Monique Evelle
De tanto ouvir a pergunta “e quando chama o branco de branquelo, não é racismo?” e cansada de responder, resolvi destacar 5 pontos para identificar pessoas racistas reversas, ou seja, racista contra branco (o que não existe).
Para não deixar pro final, adianto que este texto é bastante irônico.
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Vão querer voltar ao passado
Prepare-se! Esse é o primeiro passo pra descobrir que uma pessoa é racista reversa. Ela vai dizer que as pessoas não nascem com iguais oportunidades, que a abolição da escravatura foi um jogo político e se duvidar vão destacar alguma lei “abolicionista” Cuidado que qualquer racista reversa poderá trazer dados e provas, a exemplo da Lei do Ventre Livre:
Art. 1o: Os filhos da mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei, serão considerados de condição livre.
Legal até. Esse artigo está claro: São livres os filhos de escravas que nascerem desde a data da lei do ventre livre!
Logo após vem o parágrafo :
§1o: Os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais terão obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de OITO ANOS COMPLETOS. Chegando o filho da escrava a esta idade, O SENHOR DA MÃE TERÁ A OPÇÃO, OU DE RECEBER DO ESTADO A INDENIZAÇÃO DE 600$000, OU DE UTILIZAR-SE DOS SERVIÇOS DO MENOR ATÉ A IDADE DE 21 ANOS COMPLETOS. No primeiro caso o governo receberá o menor, e lhe dará destino, em conformidade da presente lei. A indenização pecuniária acima fixada será paga em títulos de renda com o juro anual de 6%, os quais se considerarão extintos no fim de trinta anos. A declaração do senhor deverá ser feita dentro de trinta dias, a contar daquele em que o menor chegar à idade de oito anos e, se a não fizer então, ficará entendido que opta pelo arbítrio de utilizar-se dos serviços do mesmo menor.
Como o escravo era propriedade a Lei do Ventre Livre fere o direito a propriedade dos escravistas, logo tinha que ter indenizações. Fora que os outros artigos tratam das punições de registro de escravos para evitar fraudes e a questão da compra de alforria.
Sem contar que que poderão relembrar a a fala da Princesa Isabel na fala do trono em 13 de maio de 1888:
“A extinção do elemento servil, pelo influxo do sentimento nacional e das liberalidades particulares, em honra do Brasil, adiantou-se pacificamente, de tal modo que é hoje aspiração aclamada por todas as classes, com admiráveis exemplos de abnegação da parte dos proprietários. QUANDO O PRÓPRIO INTERESSE PRIVADO VEM ESPONTANEAMENTE COLABORAR PARA QUE O BRASIL SE DESFAÇA DA INFELIZ HERANÇA, que as necessidades da lavoura haviam mantido, confio que não hesitareis a apagar do direito a exceção apontada’’.
E pior, depois de relembrar a Princesa Isabel, vão te deixar no vácuo para que vocês possam interpretar e tirar suas conclusões sobre o que seria o interesse privado para desfazer a infeliz herança escravocrata. Cuidado!
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Vão dizer que não existe vitimismo e meritocracia
Essa parte é super perigosa. Ainda mais se você é uma pessoa privilegiada. A racista reversa vai falar que a população negra corresponde mais de 51% do Brasil, que na Bahia é cerca de 82% e as negras e os negros não ocupam nenhuma posição de poder na sociedade brasileira e que não dá para ser contra cotas por N motivos. Ou pior, vai te fazer sofrer porque te fará colocar a mão na consciência.
Vai dizer que não existe vitimismo e meritocracia porque as pessoas não nascem com oportunidades iguais para disputar igualmente espaços de poder. Vai diferencia igualdade de isonomia, alegando que o principio da isonomia é “tratar os igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.” Por quê? O artigo 5º da CF/88 trata da igualdade formal, e nem todos são iguais, seja no plano material, social, enfim.. Isso entra nas questões de políticas públicas efetivas, criação de ações afirmativas para “corrigir” legalmente esses equívocos de desigualdades e garantir a dignidade da pessoa humana através da isonomia.
Aí é o momento que você começa a questionar e a racista reversa vai continuar falando que não existe vitimismo em um país que tem 515 anos de existência,3/4 de escravidão, 1/4 de ditadura militar, onde 77% jovens negros são assassinados por arma de fogo, onde as mulheres negras tem 2 vezes mais chances de serem assassinadas do que uma mulher branca etc.
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Vão falar sobre empregadas domésticas
Toda racista reversa costuma falar de relações de trabalho. Cuidado viu?! Porque se for racista reversa batizada vai citar algumas autoras ou autores. Então corre!
Você vai saber logo quando começar a dizer que o inicio do livro Onda Negra, Medo Branco: O negro na imagem das elites do século XIX, de Celia Maria Azevedo, reflete muito bem o processo de branqueamento do Brasil pós abolição da escravatura, a impossibilidade de estabilidade de força de trabalho dos negros e negras por conta da vinda de imigrantes para exercer o trabalho livre no lugar dos ex-escravos.
Vai criticar o filme “Que horas ela volta?”, porque não houve o recorte racial e ainda vai dizer da pressão camuflada de laços afetivos entre empregadas domésticas e patrões. Se vaciliar vai estender a conversa falando dos direitos trabalhistas dos empregados domésticos como carteira assinada, jornada de 8 horas diárias, horas extras, INSS e FGTS que não são cumpridos e que o último resquício da escravidão é a empregada doméstica.
E para piorar a racista reversa vai problematizar da foto que Carolina Dieckmann e Regina Casé tiraram no Natal com as empregadas, quase da família.
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Vão te chamar de uma pessoa privilegiada
Essa é uma parte perigosa. Vão te chamar de pessoa privilegiada pelo simples fato de seu fenótipo não ser de uma pessoa negra. Só porque você não será abordada nas ruas pela polícia com frequência, não será seguida nas lojas, não estará nas estatísticas dos 77% dos jovens negros que morrem por arma de fogo e nas dos 66% das mulheres negras que morrem mais do que brancas. Só porque ninguém vai correr de você quando te ver na rua à noite, não vai te olhar com cara de suspeito,
outras coisinhas mais que você não vai entender se não for negra.
Você vai falar “Ah, mas minha bisavó era negra”. A racista reversa vai responder prontamente:
“Na hora que a bala vem não pergunta a árvore genealógica de sua família”
Ou seja, você não é alvo da polícia militar e não tem porque ficar justificando que tem alguém na sua família que é negra, se você tem fenótipo claro. Reconhecer privilégios não doi.
E você vai dizer: “Não existe racismo reverso mesmo, só racismo (contra qualquer raça)”. Ela vai te olhar com cara de sono e só.
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Vão responder rapidamente
Se você perguntar “e quando chama o branco de branquelo, não é racismo?” , vai te responder: Tudo, menos racismo
Só destaquei cinco, mas a lista é imensa. Acredito que com esses destaques é possível identificar uma pessoa racista reversa. HAHHAHA
PS: Como perceberam, este texto é PURA IRONIA. Pessoas, não existe racismo reverso. Só peguei frases que costumo ouvir toda vez que faço recorte racial. Uma dica de texto: Falar em racismo reverso é como acreditar em unicórnios