Seremos a primeira geração a praticar Black Money

Estava lendo uma entrevista super polêmica (pode ser falsa ou não) concedidapor um Líder Judeu, onde ele afirmava que as sociedades dos negros tem uma economia muito atrasada, pois nós estamos focados em consumir produtos dos colonizadores, ao invés de construir nossas próprias riquezas.

As estatísticas mostram que o dinheiro judeu deve trocar de mãos 18 vezes antes de deixar a sua comunidade, enquanto para os negros é provavelmente um máximo de uma vez ou mesmo zero. Apenas 6% de dinheiro negro volta para sua comunidade.

Isso me deixou pensativa. Se , de acordo com o Data Popular, a comunidade negra movimenta em média 1.5 trilhão por ano, pra onde vai o dinheiro? Quais mãos? Pensar sobre isso não é ser mercenária e muito menos esquecer que o capitalismo alimenta o racismo e/ou vice-versa. Mas aprendi uma coisa muito simples com Lázaro e compartilho com vocês:

Enquanto discutirmos apropriação cultural apenas na estética, perderemos o jogo. Eu quero entender por que Neguinho do Samba, o criador do Samba Reggae, morreu sem dinheiro para comprar um caixão. Pra onde vai o dinheiro? Quem ganha dinheiro com uma criação nossa?

Sempre fiquei agoniada com a fala de alguns amigos e professores do bairro do Corredor da Vitória, Stella Maris e afins (bairros ricos de Salvador). Eles dizem:

Não vamos pensar em dinheiro. Temos que acabar com o capitalismo!

Concordo em partes. O capitalismo nos mostra todos os dias que não está dando certo. Mas é muito fácil ser anti-capitalista morando no Corredor da Vitória ou qualquer bairro milionário do Brasil.

Como Thamyra Thâmara disse, a juventude de favela, sobretudo negra, tem que se espremer entre pagar as contas e não morrer de bala perdida. Pra nós, a conta sempre chega. Seja em forma de boleto ou forma de bala, tiro.

Só a título de curiosidade, a população negra nos Estados Unidos corresponde a 13%. O mesmo que no estado do Rio Grande do Sul. Quero dizer que, mesmo o processo de escravidão e pós escravidão nos EUA tenha sido diferente, os EUA mostra que é possível ter bancos, universidades, hospitais e tudo feito por e para a comunidade negra. E nós, 54% da população brasileira que consume mais de 1 trilhão por ano, também podemos!

Sei que é difícil. Culturalmente, sempre uma única pessoa negra era escolhida na Casa Grande. Mas é possível o Black Money. A Kumasi, a Ebony English o Afrôbox, a Batekoo, Circuito Rolezinho e diversas outras iniciativas existem para mostrar que o caminho é esse: Desenvolvimento econômico para base da pirâmide. Precisamos de mais e mais estratégias para migrações econômicas (hackear espaços) e empoderamento econômico.

Eu sigo confiante no que Lucas Santana sempre me diz:

Seremos a primeira geração a praticar Black Money!

Mas não podemos esquecer daqueles que nos antecederam. Desde os tempos da compra de alforrias à Feira Preta, por exemplo, existe há 15 anos e já vem exercitando Black Money. Talvez, seremos a primeira geração a reconhecer a importância disso. Senão for assim, teremos mais Neguinhos do Samba, Cartolas e outros criadores negros morrendo sem dinheiro pro caixão.

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