Brotar do impossível chão.

Hoje foi um dia incrível! Foi dia de chegar em casa e chorar. Chorar de emoção, de comemoração, de felicidade.

Pela manhã participei como ouvinte de um debate sensacional promovido pelo Centro Acadêmico da Universidade Católica de Salvador, sobre empoderamento feminino. 

Luciane Neves, produtora cultural , falou da sua experiência de vida e profissional. E Altamira Simões foi na mesma linha. Altamira é lésbica, negra, do axé, do movimento negro, petista, mãe de três meninas e avó de um menininha de dois meses. Hoje ela é casada com uma mulher. Imaginem só! Ela é incrível. Na sua fala, ela reafirmava sempre que o comportamento de rejeição viola os direitos humanos e questionava como a sociedade deve se relacionar com a diversidade. Ela tratou muito sobre violência e sexualidade. Quando vamos ao médico, por exemplo, ninguém pergunta nossa orientação sexual. E quando morre não sabe os números de heteros e de homossexuais que morreram. Como Altamira mesmo diz, “para o Estado nós somos números. Temos que dizer quem somos para criarmos políticas públicas.” Questiono: Temos que ser estatística para o Estado nos enxergar? Complicado, mas é a verdade.

Por aí vocês já devem ter imaginado como foi o restante do debate. A galera do CA da UCSAL estão de parabéns.

No final da tarde fui para o I Colóquio de Formação de Docentes , realizado pelo Bairro-Escola Rio Vermelho, tendo como o primeiro módulo o tema Educação e Comunidade. Nesse Colóquio foram convidados duas pessoas SENSACIONAIS! Braz Nogueira (Diretor da Escola Municipal Presidente Campos Salles/ Heliópolis-SP) e João Miranda (Líder Comunitário e Presidente da união de núcleos e associações de moradores de Heliópolis e São João Clímaco UNAS)

João Miranda é pernambucano, mas mora em São Paulo. Mudou a realidade da comunidade dele: Heliópolis, em São Paulo. Eu contando não vai ser a mesma emoção. Só sei que fiquei muito emocionada, a ponto de não conseguir falar nada na hora, senão iria chorar. Com sua sabedoria e com ousadia , transformou vidas. Transformou a realidade das pessoas daquela comunidade levando políticas públicas para aquele local.  Mais do que isso. Ele levou esperança! E com a ajuda do Braz Nogueira, estão juntos nessa caminhada , tornando Heliópolis um bairro educador.

Braz morava numa roça, seus pais são analfabetos e hoje é diretor de uma escola. Mas para isso, ele passou alguns perrengues , claro. Mesmo passando fome, sem ter onde dormir naquela grande São Paulo, ele disse diversos NÃO para milhares de propostas de empregos que não iria contemplá-lo. Me vi nele. Nele não, neles!

É difícil tornar seu sonho, numa causa, numa bandeira coletiva. É muito mais difícil quando você se ver numa linha muito tênue entre fazer o que acredita e fazer aquilo que é necessário para colocar comida na mesa. É muito difícil está cercado de pessoas que poderiam colaborar de alguma forma para seu sonho coletivo e mesmo assim está sozinho.

Não me contive. E mesmo com a voz de choro, levantei na hora e falei um pouco da minha história também. Com muitos detalhes até. Nunca gostei de falar dessa forma, mas me senti em casa.

Eu não consigo descrever exatamente como foi meu dia. Só sei que quando cheguei em casa, foi para o colo de minha mãe que corri e desabei. 

“É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão.”

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