03 coisas que disseram que preto não podia, e eu fiz

Por Monique Evelle

Quem me conhece de verdade, tipo de verdade mesmo, sabe que tenho um grande vício: colecionar agendas (moleskines). Tenho tantos, mas tantos que não sei nem onde colocar. Mas desde criança faço isso. Inclusive, com 11 ou 12 anos escrevi tudo que queria realizar na vida. Na época parecia impossível. Depois de 10 anos minha mãe achou minha agenda e eu chorei tanto quando ouvi ela lendo pra mim. O choro fácil tem uma justificativa simples: 90% do que estava escrito eu consegui antes dos 23.

Tinha uma frase que hoje dou muita risada, mas na época era meu foco (preparem-se para rir).

Não quero fotos com meus ídolos, quero ser amiga deles.

E não é que hoje meus ídolos realmente são meus amigos? Se na infância essa frase foi motivo de chacota, hoje ela é motivo de risos de felicidade. Mas vamos ao que interessa:

Intercâmbio não é pra gente

Sou de uma geração que cresceu com a imagem da Disney na cabeça. Querendo pelo menos andar naquela montanha russa ou visitar o Castelo de Harry Potter. Quando fazia as contas de quanto gastaria com passagens, hospedagens e afins, sempre desanimava. Então, o meu encanto com a Disney passou bem rápido, mas bem rápido mesmo, porque a conta não fechava.

Quando via alguns conhecidos e amigos indo viajar para estudar línguas em outro país ou até mesmo passar férias, o encanto também passava rápido.

Afinal, além da falta de dinheiro, como sobreviver em um país que você nem sabe falar a língua?

Sempre colocaram dificuldades para que nossos desejos fossem diminuindo rapidamente. Mas chega um dia que chega e esse dia chegou. Estou aqui, no meu intercâmbio, estudando e fazendo business na Califórnia.

Sai do Vale do Silêncio, agora estou no Vale do Silício.

Televisão não é pra gente

Nunca me senti representada quando assistia TV. Hoje, pelo menos, temos algumas pessoas aparecendo que me deixam mais acolhida, sabe?!

Na faculdade iniciei com Engenharia Ambiental. Larguei. Fui para Direito. Larguei também. Serviço Social nem frequentei aula. Formei no Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades com ênfase em Política e Gestão da Cultura. Mas exerço a profissão de repórter, no Profissão Repórter. 2017 foi só minha primeira temporada. O começo de muitas.

Sim, minha cara preta vai continuar aparecendo as quartas-feiras depois do futebol.

Escrever livros não é pra gente

Quem me ver assim segura, nem imagina o quanto a síndrome do impostor vai e volta. Quando recebi o convite de Djamila Ribeiro para escrever para coleção Feminismos Plurais, claro que fiquei feliz. Mas imediatamente fiz a pergunta pra mim mesmo:

Será? Será que sou a pessoa certa pra isso? Será que consigo?

Tive que sair do colégio para começar a me enxergar nas literaturas. Afinal, ou procurava outras referências ou surtava diante de tanta negação da minha história, da nossa história.

Exatamente hoje, existirei menos no facebook para focar no meu primeiro livro e apostar em novos projetos (sim tem mais novidades que serão divulgadas só em 2018).

#CoisaDePreto

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